1° OFICINA DIÁLOGO DE SABERES: CIÊNCIAS DA NATUREZA, AGROECOLOGIA E SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM ÁREAS ÚMIDAS
Nos dias 18 e 19 de dezembro de 2021, o Instituto Gaia realizou encontro lideranças de povos e comunidades tradicionais, indígenas, produtores familiares rurais, estudantes e profissionais das organizações que têm em comum, praticam ou que tem interesse em praticar ações agroecológicas em seu cotidiano, que pensam em produções que conectem o Pantanal e as áreas úmidas, todos participando da 1° Oficina de DIÁLOGO DE SABERES: CIÊNCIAS DA NATUREZA, AGROECOLOGIA E SISTEMAS AGROFLORESTAIS
A oficina aconteceu em Cáceres- MT, teve início no dia 18/12/2021, os participantes realizaram uma roda de diálogo com foco no Pantanal e no desafio da produção de alimento saudável, alimentos obtidos de espécies nativas, e que promova a valorização das espécies locais, mantendo a floresta em pé, de maneira diversa. O grupo também debateu sobre o modelo econômico e de produção que coloca em risco o Pantanal e toda forma de vida, impondo culturas alimentares apagando alimentos e frutos disponíveis e que são adaptados à região.
José Aparecido Macedo produtor biólogo atua com restauração de nascentes conta que “além de restaurar sua propriedade na questão ambiental, tem a produção no sistema e tirar proveito para alimentação. É importante restaurar com agroecologia porque além de restaurar você tem alimento e produz alimento para os animais para o sistema e tentar restaurar as áreas degradadas. se você trabalha a agroecologia fora da agroecologia só querendo tirar lucros você começa estragar a terra, usar muito o solo sem pôr nada em troca sem criar matéria orgânica para enriquecimento do solo”.
Aguinaldo Muquissai Massavi, indígina chiquitano não aldeado e Presidente do STTR de Porto Esperidião menciona que, “A troca de saberes é muito importante, uma troca de experiência e a relação e envolvimento nosso com o trabalho da agricultura familiar agroecológica com a questão do meio ambiente tem tudo a ver, porque a partir do momento que nós trabalhamos a nossa produção agroecológica nós vamos ter qualidade de vida, uma produção na nossa mesa sem agrotóxicos e a relação disso tudo com nosso trabalho hoje, com a preservação do rio e reflorestamento, se envolve um sistema de culturamento das famílias tradicionais das famílias das comunidades as famílias que estão na base a na margem de nosso rio, né então isso tem tudo a ver”.
Fran Paula Educadora e agrônoma da Fase menciona que “Trouxe semente crioula do milho tipo caiano da comunidade quilombola Ribeirão da Mutuca. Uma semente que é um ciclo de resistência mais também de afirmação da possibilidade de uma agricultura, a base do equilíbrio ambiental com respeito a natureza, que carrega uma sabedoria ancestral dos povos e comunidades tradicionais, quilombolas indígenas, assentados e assentadas da reforma agrária, e se coloca a disposição pra construir uma agricultura, agroecológica, livre de agrotóxicos, livre de transgênicos, a importância de ter territórios agroecológicos com a garantia desse povos para fazer uma agricultura com seus saberes e sabedorias que promova saúde para as pessoas e saúde ambiental".
Fran Paula Acrescenta ainda que outro trabalho desenvolvido pela FASE, é acompanhar as políticas nacionais de redução de agrotóxicos, que serve para os municípios adotarem medidas mais restritivas a utilização de agrotóxicos. Onde foi feita a mesma pesquisa feita em Poconé, em Cáceres, no Assentamento Facão, onde identificaram 04 tipos de agrotóxicos na cachoeira, em regiões do assentamento, agrotóxicos que não têm nem autorização para ser utilizado para determinadas culturas. Essas denúncias foram encaminhadas para o Ministério Público Federal e para o Fórum de Combate de Agrotóxicos.
Pedro S. Ponce um dos coordenadores regional da Rede de comunidades Pantaneira sobre a importância do modo de vida das comunidades, conta que produzir é um trabalho muito árduo e que comercializar também é.
Participaram da oficina organizações do Programa Humedales Sin Fronteras, REDE de Comunidades Tradicionais Pantaneira, PROBIOMA (Productividad, Biósfera y Medio Ambiente, também parceiros locais como a COOPERSOL (Cooperativa de Consumo Solidário e Sustentável), CBH (Comitê de Bacia Hidrográfica) do Rio Cabaçal, STTR (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais) de Porto Esperidião, EMPAER (Empresa Mato Grossense de Pesquisa Assistência e Extensão Rural), a FASE (Fundo Mato-grossense de Apoio à Cultura da Semente). Ainda parceiros nacionais LABOOA/UFPB (Laboratório de Botânica Aplicada à Agroecologia).
Entre os palestrantes
Prof Dra. Solange Kimie Ikeda Castrillon - UNEMAT/INSTITUTO GAIA – O Pantanal (dinâmicas e ameaças); Prof. Dr. José Ricardo Castrillon – IFMT/INSTITUTO GAIA – Solos e Agronomia Geral; João Ivo Puhl – INSTITUTO GAIA/COOPERSSOL - Agroecologia: Conceitos e princípios, construção de saberes; Prof. Dr. Fernando Ferreira de Morais – UFPB/LABOAA/INSTITUTO GAIA – Ciências da Terra e Agroecologia; Maria Rita Schmitt Silva – Os Sistemas Agroflorestais Agroecológicos; Jackson – EMPAER – O Papel da Assistência Técnica nos SAF’S Pantaneiros; Fran Paula – FASE – Agroecologia no Pantanal.
Diálogos
A Prof. Dra. Solange Kimie Ikeda Castrillon - abordou o tema: O Pantanal (dinâmicas e ameaças): abriu a roda de discussão com as adversidades que o Bioma Pantanal enfrentou e enfrenta, e que prejudicam atividades tradicionais, como a pesca, principal fonte de renda da comunidade tradicional pantaneira. Tratou da necessidade da realização de mais momentos como o realizado, pois é uma soma de saberes, desde o tradicional ao técnico. O Prof. Dr. José Ricardo Castrillon – fez uma fala breve sobre os solos e a agronomia geral. Dando ênfase em como o profissional agrônomo analisa a agroecologia. Abordou a importância dos elementos: terra, sol, lua e água, todos amplamente ligados aos processos de desenvolvimento dos vegetais.
Prof. Dr. João Ivo nos propiciou um diálogo de como a agroecologia foi se moldando ao decorrer dos tempos, fomentou que é o tema central do curso, e que essa ideia de obtenção saudável de alimentos é fundamental ser trabalhada, em vista do presente e futuro para que a gente tenha uma produção de alimentos que sejam próprios da nossa região, e que estejam dentro das tradições culturais das pessoas e que possam ser oferecidas de forma a sustentar aqueles que produzem e também os consumidores locais através da comercialização solidária.
Claudia Sala de Pinho, coordenadora regional da REDE de Comunidades Tradicionais Pantaneira de Cáceres, dialogou a importância da produção com qualidade e quantidade necessária para que todos os povos e comunidades tradicionais tenham a oportunidade de continuar produzindo seu alimento, de continuar nos seus territórios, principalmente para diminuir todo o acesso e a dependência dos grandes centros e das grandes produções que muitas vezes vem por meio da monocultura.
Prof. Dr. Fernando Ferreira de Morais Ciências da Terra e Agroecologia abordou a necessidade de difundirmos as ciências da natureza no cotidiano de camponeses e camponesas para que haja o empoderamento acerca do conhecimento científico e ao mesmo tempo, conhecerem os processos da natureza e como suas ações no campo podem interferir no cotidiano da produção. Buscando compreensões sobre a nossa atuação enquanto profissional da biologia, profissional que trabalha com educação ambiental, para dialogar com aqueles que fazem a produção, com os agricultores, agricultoras e com profissionais de diferentes áreas, historiadores, agrônomos, técnicos em meio ambiente, a ideia é que a gente possa dialogar e fazer frente ao que a gente vem observando do modelo econômico atual do agronegócio de destruição.
A fim de promover o plantio de forma agroecológica, sementes de culturas foram disponibilizadas no centro do local do evento, isso no fim das falas dos convidados, na parte da manhã, cada pessoa presente pode escolher qual espécie de cultura levar, para plantar. Haviam disponíveis sementes de: feijão de porco, feijão guandu anão, arroz agulhinha, milho sol da manhã, feijão carioca, arroz vermelhão e milho caiano, oferecidos por comunidades tradicionais quilombolas. Tudo sempre entrelaçado a atividades que promovam a produção de alimentos saudáveis, livres de venenos.
A oficina teve como objetivo reunir atores sociais do território e produtores rurais, para compartilhar e fortalecer as iniciativas de produção sustentável, um momento de soma coletiva, para planejar debater as diferentes experiências para implementação de plantios agroecológicos no Pantanal.
Abundância riqueza e resiliência na Chácara Baru
No período da tarde a equipe do instituto Gaia e alguns convidados visitaram a Chácara Baru de propriedade do senhor José Aparecido Macedo. A área está em transição agroecológica e tem plantio de urucum utilizado para fazer corante, cacau que está em fase de desenvolvimento de mudas, 800 pés de bananeiras em fase de desenvolvimento, mandioca e várias espécies nativas como o cumbaru, há também um pequeno pomar com limão galego e pinha, além de outras espécies, todas em fase de desenvolvimento. O momento é de conservar e dar manutenção às espécies. Há 222 pés de pequi com 1 mês de plantados, com tratos culturais como o coroamento e o ato de roçar para não deixar o mato invadir.
Agrofloresta no Sítio Chama Chuva
No dia 19/12/2021, segundo dia de oficina, os participantes foram até o sítio Chama Chuva para partilhar técnicas de produção agroflorestais ali desenvolvidas e conhecer um pouco mais do trabalho agroflorestal. Inicialmente a jovem anfitriã Maria Rita recebeu os convidados para um diálogo, posteriormente foi apresentado o banheiro seco construído no sítio, foi apresentada a floresta de Teca, e por fim os participantes foram para a roça. A Maria Rita explicou como têm organizado as linhas para o plantio, qual espécie pode ser usada como adubo verde, qual espécie realiza fixação de nitrogênio. Os convidados, seguindo as orientações da Maria Rita, plantaram abacaxi, milho, feijão guandu, feijão de porco, mandovi, gliricídia, mandioca, abóbora, banana, amora, foram várias espécies plantadas no mesmo local, mas que não competem entre si.
Ao fim das atividades, pode-se observar que este evento propiciou uma troca de saberes muito significativa, como o compartilhamento de experiências, dos que já realizam, como realizam e também como introduzir novas metodologias. Isso tudo, entrelaçado à contemplação do Pantanal e da produção de alimentos saudáveis.
Região de nascente do córrego Sangradouro
Essa área piloto da família de Dona Natalina, é uma área de nascentes do Córrego Sangradouro muito importante pois abastece água para as famílias vizinhas, e também abrigará o Projeto de restauração da nascente. Desde 2020 com o agravamento das queimadas na região sofreu com a falta de água. A situação exigiu o dobro de esforços na área que que perdeu toda produção que havia devido a seca. Com isso uma força tarefa foi realizada para o plantio de espécies arbóreas como Laranjinha de pacu, Jenipapo, piúva e buriti, já as alimentícias foram arroz e milho crioulos, Batata-doce, Inhame, feijão guandú anão, mandioca, Capim Napiê. Estas espécies seguem os gradientes de solo respeitando as áreas úmidas, para preservar a nascente localizada na propriedade.
A área abrange 2,5 hectares.
O Instituto Gaia, realiza e apoia iniciativas que visam a difusão, implementação e expansão das áreas agroecológicas no Pantanal. a partir da união diferentes atores sociais que praticam ou que tem interesse em praticar ações agroecológicas em seu cotidiano. Sempre pensando em produções que conectem o Pantanal e as áreas úmidas.
O eixo de Agroecologia faz parte do Programa Humedales Sin Fronteras, que desenvolve atividades que envolvem os países: Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai, e que busca fortalecer grupos sociais, enfatizando os grupos locais, como camponeses, comunidades indígenas, e parceiros como fazendeiros, todos partilhando os princípios agroecológicos, buscando a produção de alimentos saudáveis e a manutenção e permanência dos territórios que fazem parte da Bacia Platina.